Em meados do século XIX, as plantações de café começaram a surgir em grande número, numa região conhecida como Vale do Paraíba, no Rio de Janeiro. Sendo assim, no início da cultura cafeeira, o Rio de Janeiro exercia uma grande influência, pois exportava cerca de 60% da safra nacional, seguido por Minas Gerais e São Paulo. Convém lembrar acima de tudo, que o Brasil antes e principalmente neste período que fora conhecido como República do Café-com-Leite, tinha uma economia essencialmente agrícola-exportadora. O que contribuía para o favorecimento do uso de produtos como o café, na base da economia nacional.
Como já foi dito anteriormente, o café começou a se reproduzir rapidamente no Rio de Janeiro, porém, devido as pobres técnicas utilizadas no seu cultivo, a sua produção foi decaindo bastante. Com a devastação dos solos, além da diminuição da produtividade, o valor da terra acompanhava este declínio. Dessa forma, o pólo econômico da economia cafeeira vai mudar para São Paulo, devido aos fatores como melhores solos do que os do Vale do Paraíba, novas técnicas, etc. Mas estes são aspectos de certa forma, não tão redundantes. O que colaborou também para a expansão das lavouras paulistas, foi que o sistema escravista se encontrava em profunda decadência, e o sistema que utilizava os imigrantes passou a ser bastante aproveitado. Contribuído ainda mais, com os interesses ingleses na construção de ferrovias que ligavam Jundiaí à São Paulo, e no aumento do consumo do café nos países europeus e americanos. Começava a se desenhar então, o retrato de uma classe de caráter capitalista, que teria ao seu lado, um grande poder econômico e político.
A grande expansão da economia cafeeira que consolidou estes empresários, se deu numa época em que a intervenção governamental não era necessária, e a política monetária com seus reflexos, representavam um grande incentivo ao avanço da cafeicultura. Ou seja, com a grande emissão de moeda que o governo fazia, e com o retrato do mercado internacional, em que os preços do café estavam em bons níveis, contribuíam para que a economia cafeeira fosse a base da economia brasileira.
Contudo, devido a este quadro, é notório observar que este tipo de política econômica poderia acarretar e assim o fez, uma grave crise na economia. Em fins do século XIX, o preço do café sofreu um declínio, o que fez com que Prudente de Morais, cassasse as emissões dos bancos, resultando em duas coisas: numa diminuição das exportações, e na criação do Funding-Loan. Este último na verdade, fora um acordo proposto entre banqueiros internacionais e políticos brasileiros, com o objetivo de saldar as antigas dívidas com novos empréstimos, só que com juros mais altos, em que também, o Brasil se comprometia a não pedir novos empréstimos ate julho de 1911. Dessa forma, vai se moldando um outro quadro. Os investidores estrangeiros começam a ter o controle da economia do país.
Este novo quadro que começa a surgir na economia, acontece principalmente porque o mercado internacional, começa a ficar saturado com o número da sacas de café que existiam. O Brasil passava por um período de superprodução, ainda que os preços decaíssem. Daí, iniciava-se as políticas de valorização em começo em 1906, e a entrada das empresas reguladoras estrangeiras no mercado. Isto se processou da seguinte forma, como os grandes produtores viam o seu produto principal em queda nos preços e com o crescimento das suas dívidas, este entregavam boa parte da sua produção até mesmo suas fazendas para que fossem administradas pelas exportadoras. Sujeitavam-se assim, as manobras exercidas por essa empresas, que tiveram enormes lucros no país.
Quando os primeiros sinais da crise, o governo começa a tomar atitudes para amenizar o seus efeitos, com as políticas de valorização. Tais iniciativas partiram principalmente de São Paulo, pois naquela época, já era o maior produtor e exportador de café no país. Contudo, estas iniciativas não deram tiveram muito êxito, principalmente porque se contava ainda com uma imensa safra e os estoques de café abarrotavam os armazéns. Em 1906, o presidente da república Campos Sales, reuniu-se com os governadores de São Paulo e Minas Gerais para debater sobre as possibilidades de diminuir a crise. Esta reunião ocorrida em Taubaté, ficou conhecida como Convênio de Taubaté. O Convênio de Taubaté tinha na verdade 2 objetivos fundamentais: o primeiro era retirar do mercado parte da safra com os recursos obtidos de investidores, e o segundo era estabilizar a taxa cambial para que houvesse uma melhora sensível no preço. A partir daí, nesta primeira política de valorização, nota-se a importância que o governo vai assumir dentro deste período no Brasil.
O Convênio fora aprovado por larga margem no Congresso Nacional, pois interessava a forte classe cafeeira, e era também uma forma de melhorar a taxa cambial através da criação da Caixa de Conversão. Esta, era um fundo utilizado para estabilizar a taxa de cambial, e atrair novos investidores para o país. Contudo, esta política tinha um cunho essencialmente paulistana, pois tanto Minas Gerais e Rio de Janeiro afirmavam que este era também um problema de superprodução paulista. Ou seja, São Paulo esta tendo apoio integral, enquanto demais federações eram esquecidas. Isto era comprovado com as enormes quantidades de capital que eram investidas nas produções de café de São Paulo, enquanto federações como a da Bahia, sofriam para requerer verbas com o intuito de amenizar um grande problema existente naquela região, a seca. Isto indignava os representantes das demais federações.
São Paulo era extremamente favorecida com essa política, principalmente com as políticas de valorização, que na verdade foram em número de três. O argumento muito utilizado pelos políticos é que como o café era a base da economia nacional, existia o discurso de "interesse nacional" para que se tomasse providências contra esta crise. Na verdade, nos intervalos entre as políticas de valorização, existiram altos e baixos na economia cafeeira. Porém, o governo estava disposto a melhorar a estrutura de escoamento das produções, com o advento de novas ferrovias, portos, o que teve como uma conseqüência fundamental, o aumento no nível de renda da burguesia cafeeira e claro, no aumento de lucros das exportadoras. Deve também notar que, São Paulo era um Estado que devido ao seu grande potencial econômico, ele teria condições suficientes para saldar tais dívidas. Daí, diversos investimentos. Um dos piores retratos da crise cafeeira foi no período em que a I Guerra Mundial, desestabilizou economicamente muitos países, inclusive o Brasil. Isto significava que a produção não poderia ser escoada devido a queda dos compradores, a diminuição das importações e o conseqüente novo Funding Loan, em que se reteria o pagamento das dívidas.
Já com a chegada dos anos 20, a agricultura cafeeira teve um período de auge. Tendo um bom preço no mercado internacional, a economia do café prosperava, à medida em que via a dissolução da facção São Paulo-Minas Gerais, devido a grande importância que se dava a São Paulo. Sendo assim, vai ser um período em que se pode comprovar o enorme poder das oligarquias estaduais a nível nacional.
Além disso, havia uma "guerra de interesses" travados entre os políticos de diversas federações. O que deixava ainda mais o governo de Epitácio Pessoa mais desorientado. Devido a sua política de contenção de gastos e tentativa de estabilizar a moeda, Epitácio vai de encontro aos interesses da burguesia, que queriam mais créditos para que se pudesse contornar esta crise, em que se constatou a última política de valorização. Não suportando a pressão feita pela burguesia paulista, Epitácio volta atrás, reconciliando com os paulistas e novamente intervindo na política cafeeira.
Este quadro mostrado no Brasil, na verdade, se mostra em diversas nações porque começa a surgir as proteções a economia nacional, diagnosticando a importância do Estado na economia. Em meio a isto tudo, se desfaz em 1922 os Estados que formavam a denominada política do Café-com-Leite. Sucedendo vários governos como o de Arthur Bernardes e tendo difíceis conjunturas. Na verdade, representou-se resumidamente, a mudança do poder de defesa dos interesses paulistas, assentados numa base estritamente regional. Isto se comprova ainda com a criação do instituto do Café de São Paulo, em que se procurava regular de vez as produções cafeeiras, assim como a entrada e saída dos portos, a publicidade do produto, etc. Mas isto não implica que o governo federal deixava de lado o interesse na economia cafeeira.
Finalizando este período, podemos notar que esta defesa permanente do café entrava em choque com os interesses norte-americanos e vê-se a ascensão das demais federações, principalmente nas federações de cunho aliancista, em que se notava a figura de Getúlio Vargas. Para piorar o quadro brasileiro, em 1929 explode a pior crise financeira de todos os tempos, que fora conhecida como a "Grande Depressão" nos Estados Unidos, contribuindo para grave crise na economia brasileira.
Com os conflitos entre estas federações e com queda dos preços do café no mercado internacional, o ciclo da burguesia cafeeira chegara ao seu fim, com o início do governo Vargas. Embora, este se preocupou em manter a economia cafeeira no seu auge, o quadro internacional mostrava uma nova forma em que as classes burguesas perderiam o seu predomínio, principalmente no Brasil, que é quando eclode a revolução de 1930, tendo Getúlio Vargas no poder.
No texto "O MECANISMO EM MARCHA" de Maria de Carmo Souza, é retratado um período de grande importância na história da política brasileira. A finalidade da obra é analisar os aspectos das mudanças da política no Brasil, no período de 1945 a 1964. Período este que também fora conhecido como a última fase da Republica Populista.
O que a autora procura analisar no seu texto, refere-se a uma sistematização sobre os mecanismos políticos-partidários no Brasil, juntamente com a sua crise que culminaria com o golpe militar em março de 1964. Durante o seu estudo sobre tal período, Maria do Carmo Souza destacou três aspectos muito importantes. O primeiro foi o declínio dos grandes partidos conservadores como a UDN, PSD, entre outros; o aumento das alianças e coligações partidárias é um outro aspecto discutido pela autora, e que reflete até mesmo na política atual, com as diferentes coligações que unem partidos diferentes, mas procurando um mesmo objetivo, mas que podem levar certos conflitos entre as outras coligações; e por último, o aumento dos votos nulos e brancos.
Analogamente, à medida em que Maria do Carmo Souza conduz os elementos formadores deste aspecto da política brasileira, ela promove argumentos que levaram aos diversos grupos políticos a tais atitudes. Ou seja, para ela as alianças eram as formas de se vencer a crescente disputa eleitoral, mesmo que em 1962 segundo ela, o "aliancismo" não tinha mais tanto poder. Porém, quando se refere ao aspecto do crescente número de votos brancos e nulos, a autora dispõe-se a dizer, que mesmo com as insatisfações afirmadas por Simon Schwartzman ( autor de "Veinte años de democracia representativa en Brasil, 1945 - 1964", na qual ela se baseia para transcorrer a sua análise em certas características do período.), não eram suficientes para se entender tal aspecto, mas sim, uma possível conjunção de fatores agregados a este, como descontentamento, inexperiência, desinteresse, etc. Esta questão inicialmente debatida por Maria do Carmo Souza no texto "O MECANISMO EM MARCHA", não pode ser contudo, totalmente respondida.
Finalizando, a crise na qual mergulha os partidos políticos, segundo a autora, se correlaciona aos outros itens ditos anteriormente, juntamente com a perda de hegemonia política por parte das classes conservadoras, que resultaria em um conflito entre um Congresso conservador e um Executivo reformista e numa adesão, segundo Maria do Carmo, de cunho clientelística aos partidos nas regiões menos desenvolvidas e de cunho personalístico-plebiscitária, refletindo-se assim, numa grande concentração de votos por alguns candidatos nas regiões mais desenvolvidas.
A visão de Maria do Carmo Souza na sua obra se mostra apesar de, segundo ela mesmo, um pouco modesta para a abrangência do assunto, é de relevante valor histórico quando se analisa de forma bastante objetiva um período de profundas modificações na conjuntura política brasileira. Embora certos aspectos mereçam mais atenção e um maior conhecimento para um estudo mais amplo, isto não altera a fácil compreensão das mudanças que ela retrata na sua obra. Mudanças essas, que vão de uma certa forma, sofrerem novas transformações quando se inicia o período militar e a sua ditadura.