A natureza sempre foi o celeiro do homem, ainda quando este se encontrava na sua fase pré-social. Mas, para que o animal homem se torne o homem social é indispensável que ele também se torne o centro da natureza. Isto ele consegue pelo uso consciente dos instrumentos de trabalho. A natureza deixa de comandar as ações dos homens e a atividade social começa a ser uma simbiose entre o trabalho do homem e uma natureza cada vez mais modificada.
Nosso enfoque é fundamentalmente baseado no fato de ser o espaço humano reconhecido em qualquer que seja o período histórico, como um resultado da produção. A promoção do homem animal a homem social deu-se quando ele começou a produzir. Produzir significa tirar da natureza os elementos indispensáveis à reprodução da vida. O homem começa a produzir quando trabalha junto com outros em um regime de cooperação. A produção é a utilização consciente dos instrumentos de trabalho com um objetivo definido. A partir dessa primeira organização social, o homem se vê obrigado para todo o sempre a prosseguir uma vida em comum, uma existência organizada e "planificada". A produção impõe formas e ritmos à vida e à atividade dos homens, ritmos diários, estacionais, anuais. Essa nova disciplina que o homem até então não conhecia, implica uma nova utilização disciplinada do tempo e do espaço.
Cada atividade tem um lugar próprio no tempo e um lugar próprio no espaço. Essa ordem espácio-temporal é um resultado das necessidades próprias à produção. Isso explica porque o uso do tempo e do espaço não é feito jamais da mesma maneira. Produzir e produzir espaço são dois atos indissociáveis. Pela produção o homem modifica a natureza primeira, a natureza bruta. O espaço é criado como natureza segunda, natureza transformada, natureza social ou socializada. O ato de produzir é, ao mesmo tempo, o ato de produzir espaço.
As maneiras de produzir mudam; as relações entre o homem e a natureza mudam; a distribuição dos objetos criados pelo homem para poder produzir e assim reproduzir a sua própria vida podem igualmente mudar. Quando esse tempo social muda, o espaço muda igualmente. De um estágio da produção a um outro, de uma organização do espaço a uma outra, o homem está cada dia e permanentemente escrevendo a sua História, que é ao mesmo tempo a história do trabalho produtivo e a história do espaço. O problema é o de saber como os grupos humanos, mudando, alterando suas relações com a natureza, mudam dessa forma a história; outro problema é o de também localizar-se as respectivas e múltiplas cadeias de causas e efeitos.
O trabalho em comum, esse trabalho social definido por um objetivo comum e por uma divisão de tarefas, chama-se cooperação. Na medida em que essa cooperação aumenta, uma porção de espaço, uma área cada vez maior se torna necessária para que o grupo realize sua atividade produtora. Aumentada a produção social, a parte que cabe a cada um é teoricamente aumentada ao mesmo tempo. Quando existe um excedente, a solução encontrada pela sociedade consiste em diversificar a produção. Passa-se, então, a produzir mais roupa, busca-se melhorar as condições de moradia, etc. O trabalho intelectual, isto é, o labor dos sacerdotes e magistrados, dos professores, se desenvolverá paralelamente.
As novas atividades exigem um lugar no espaço e impõem uma nova arrumação para as coisas, uma disposição diferente para os objetos geográficos. Quando a fase de pura subsistência é ultrapassada, torna-se necessário que os excedentes de cada grupo sejam trocados. Mas esse tipo primitivo de comércio não tem força para mudar a estrutura dos grupos isolados. Tal comércio é a troca simples, o escambo. Quando o comércio se torna especulativo tudo muda. O comércio especulativo introduz uma nova escala de valores. O valor dos bens que são trocados não é mais um valor baseado na quantidade de trabalho fornecido para a sua produção. Esse valor é arbitrariamente fixado, e por esse mesmo processo, o produto se transforma em mercadoria.
A mercadoria é introduzida na vida de um grupo social com a criação de uma nova relação social, a moeda. Para poder comprar mercadorias com dinheiro, é necessário produzir aquilo que permite obter mais dinheiro e negligenciar o que é menos monetarizável. Se o preço das mercadorias é aumentado, então novas transformações vão se impor ao modo de vida do grupo. O comércio especulativo separa aqueles que produzem os bens que apresentam um "valor" especulativo e os outros. A partir desse momento, pode-se falar de classes sociais, de diferença de poder aquisitivo, e se instala uma verdadeira revolução nas relações sociais.
O tempo se organiza diferentemente. O espaço também já não é mais o mesmo. Ele se transforma em função das modalidades de adaptação da sociedade local ao novo processo produtivo e às novas condições de cooperação. As transformações espaciais provêm da intervenção simultâneas de redes de influência operando simultaneamente em uma multiplicidade de escalas, desde a escala local até a escala mundial. O espaço total é o espaço mundialmente solidário. O espaço total e o espaço local são aspectos de uma única e mesma realidade - a realidade total - à imagem do universal e dos particulares.
A noção de espaço como suporte biológico dos grupos humanos, de suas atividades, exige agora uma interpretação menos literal. Essa noção não pode mais aplicar-se corretamente a um grupo isolado, mas a humanidade em geral. A noção de espaço global se impõe com mais força porque têm uma origem cada vez mais longínqua e uma alcance mundial. Isso foi possível porque, com o atual capitalismo da organização comandado pela presença de firma multinacionais, o processo de acumulação do capital, não poderia mais fazer-se sem que tais firmas pudessem ir buscar as condições para a obtenção de um lucro maior. Tal processo, iniciado com a mundialização do consumo, conduz, à internacionalização da produção.
O contexto em que trabalham as firmas é um contexto mundial. Tudo o que nos circunda traz a marca dessa internacionalização devorante e mesmo o nosso corpo, pelo que o envolve, não escapa a essa mundialização. Nossas roupas, nosso sapatos e tantos outros artigos de uso cotidiano. Isso não poderia ser obtido se não houvessem ocorrido diversos processos de internacionalização: do capital, da tecnologia, do mercado dos bens e do mercado de trabalho, da educação e das preferências e gostos, inclusive na alimentação. A noção de ecúmeno teria que ser revista. A noção de distribuição da humanidade tomada em relação às condições naturais é insuficiente. O espaço das sociedades não é a soma dos espaços correspondentes a cada sociedade particular existente, tampouco esse espaço social é exclusivamente o habitat dos homens, graças à nova natureza das relações intra-sociais e entre sociedade. O espaço social é muito mais que o conjunto dos habitats. A construção do espaço em nossos dias, não resulta unicamente da atividade econômica direta, mas também das expectativas de valorização de áreas atualmente não ocupadas ou consideradas sem valor econômico.
A necessidade de manter intato, não só para o presente - pois atualmente são poucos os países que podem explorar, plenamente, seus recursos - mas, sobretudo, para o futuro, condiciona transformações na organização do espaço. A produção do espaço deixa de ser uma conseqüência estrita da produção. O dado político aparece como um dos seus autores de relevo, ainda que no fim a economia retome seus direitos, as relações do homem com a natureza transformada são afinal, um fato produtivo.
O nível universal nos é dado pelo que chamaremos de universalização perversa, uma vez que não atinge a todos os atores, não é utilizada igualmente por todos os agentes; e somente beneficia a uns poucos. Pode-se dizer que a utilização dos meios, chamados universais, de comunicação está em relação direta coma soma de poder que cabe a cada ator: estado, firma, ou indivíduo. A natureza dessa nova forma de totalização correspondente à era da tecnologia e das multinacionais exige que o quadro nacional seja tomado como a escala viável dessa totalidade e dá um lugar particular ao valor da estrutura interna, concreta, de cada país. A totalização universal, que é dada pelo presente, isto é, o presente modo de produção, não pode realizar-se senão através de uma outra totalização que nos é fornecida por intermédio do conceito de formação econômica e social.
Outro quesito importante colocado pelo autor é o conceito de "natura naturata", na qual está baseado o conceito da dialética do espaço. Esta significa que há sempre uma primeira natureza prestes a se transformar em segunda; uma depende da outra, porque a natureza segunda não se realiza sem as condições da natureza primeira e a natureza primeira é sempre incompleta e não se perfaz sem que a natureza segunda se realize. Este é o princípio da dialética do espaço.
O que aparece aos nossos olhos como natureza não é mais a natureza primeira, já é uma natureza segunda, isto é, modificada pelo trabalho do homem. Isto é fácil de constatar numa cidade ou numa zona agrícola. A natureza se transforma pela produção e não há produção sem instrumentos de trabalho. Com a compilação do processo produtivo, sobretudo depois da necessidade que se impôs, da troca especulativa dos excedentes da produção, os instrumentos de trabalho foram se tornando maiores e mais complicados e, igualmente, deixando de ser apêndices do corpo do homem.
Pode-se agora falar de instrumentos de trabalho fixos. Devemos incluir as formas de substituição da energia humana e da energia mecânica e, posteriormente, da energia científica. E, como resultado dessa mesma evolução, temos que considerar todo o instrumental que se criou e aperfeiçoou para a transmissão de mensagens. A tendência é para uma importância crescente dos recursos imóveis; de outro lado, a tendência a uma especialização cada vez mais estrita do instrumento de trabalho. O fato de os instrumentos de trabalho aumentarem de volume, tornarem-se mis fixos e se especializarem cada vez mais, contribui para que cada porção de espaço fique dotada de uma funcionalidade potencial própria que contribui ainda mais para essa desigualdade espacial.
Com o desenvolvimento e a extensão geográfica da divisão do trabalho, dois fenômenos se impuseram: 1 - os instrumentos de trabalho eram transportáveis, tornam-se cada vez mais volumosos; 2 - como a divisão do trabalho se ampliou a escala mundial, as transformações encontram sua força motora em níveis diferentes. Hoje os instrumentos de trabalho ou de poder vêm também de fora, assim como as idéias de como utilizar o espaço. Se situarmos do ponto de vista da evolução histórica dos instrumentos de trabalho, em um enfoque vertical, constatamos que a natureza do espaço social tem mudado. Se preferirmos um enfoque horizontal, encontramos uma distribuição irregular dos modelos mais avançados dos instrumentos de trabalho mas também a coabitação de modelos antigos e modernos e em muito raros lugares há homogeneidade dos instrumentos de trabalho. Os lugares se diferenciam: de um lado, pelo grau de modernização dos recursos; de outro, pela forma com que, se combinam as diferentes modalidades de recursos.
O trabalho de hoje se realiza em função do resultado do trabalho de ontem, trabalho realizado no passado. Em outras palavras, o trabalho vivo é até certo ponto condicionado pelo trabalho morto. As diferentes gradações do velho e do novo são concomitantemente aproveitadas pelo trabalho vivo. O trabalho morto são as diferentes formas sociais e espaciais que condicionam a realização objetiva da sociedade como um todo. A força motriz é a totalidade social que se encaixa numa adequação dinâmica às condições preexistentes através de uma variedade de processos políticos, econômicos, culturais, ideológicos, etc. A totalidade é a força motriz e o processo é também força, mas força movida que se extingue quando a realidade social é, por seu intermédio, transferida às formas geográficas para atribuir-lhes uma função.
O ser é a sociedade total; o tempo são os processos e as funções, assim como as formas são a existência. As categorias fundamentais do estudo do espaço são, pois, a totalidade e o tempo. Podemos assim ver que as noções de totalidade, escala, sistema e tempo são categorias imbricadas. Da mesma forma como a definição de cada uma dessas categorias não é possível sem a intervenção das outras, qualquer que seja. A noção de totalidade é inseparável da noção de estrutura, sem o que estaremos trabalhando com uma totalidade cega. Como a totalidade de que falamos é a totalidade social, as estruturas correspondentes são as estruturas sociais. A totalidade espacial, também deve ser tratada em termos de subestrutura. Aqui cabe falar dos lugares e dos subespaços, áreas que na linguagem tradicional dos geógrafos chamam-se mais freqüentemente regiões. Lugares e áreas, regiões ou subespaços são, pois, unicamente áreas funcionais, cuja escala real depende dos processos.
No texto "O Conceito de Região e sua Discussão", são apresentadas diversas análises baseadas em muitos estudiosos da geografia, criando assim, novas formas de definir "região". Inicialmente, a palavra "região" deriva do latim regere. Ao longo do anos, do império romano às sociedades contemporâneas, os conceitos de região foram se diversificando ou ampliando a sua área de entendimento. Ou seja, passando por questões de cunho político, da dinâmica do Estado, da organização da cultura e do estatuto da diversidade espacial.
Porém, na linguagem do senso comum, a noção de região está relacionada a dois princípios fundamentais: o de localização e o de extensão. Ou seja, empregada para ressaltar uma referência associada à localização e à extensão de um certo fato ou fenômeno, ou uma referência a limites da diversidade especial. A região também tem um sentido conhecido como unidade administrativa. E nas ciências em geral, como na matemática, na biologia, etc, a noção de região possui um emprego também associado à localização de um certo domínio.
2. MÉTODO REGIONAL - PROCURAR NA DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DOS FENÔMENOS A CARACTERIZAÇÃO DE UNIDADES REGIONAIS
Método regional é o ponto de vista da geografia, em que se procura na distribuição espacial dos fenômenos a caracterização de unidades regionais e ao mesmo tempo, torna-se a particularidade que diferencia a Geografia das demais ciências.
3. REGIÕES FUNCIONAIS E REGIÕES POLARIZADAS
No que diz respeito às regiões funcionais, a estruturação do espaço não é vista sob o caráter da uniformidade espacial, mas sim das múltiplas relações que circulam e dão forma a um espaço que é internamente diferenciado. E muito dessa perspectiva surge com a valorização do papel da cidade como centro de organização espacial. Daí, advém o outro conceito, ou seja, das regiões polarizadas. Esta deriva dessa característica de organização que a cidade "propõe" de um espaço tributário, organizado e comandado por ela.
É a partir de 1754 que entre os alemães, a Geografia inicia o seu caminho para o status científico. Surgem na verdade, duas vias para esse estudo: a "geografia político-estatística" e a "geografia pura", sendo que Ratzel virá a se relacionar com esta última. A "geografia político-estatística" define o papel da geografia como sendo o de montagem do painel mais amplo e sistemático possível de uma dada conjuntura, tomando por base territorial sua unidade político regional. Enquanto a "geografia pura" assenta as suas bases numa unidade regional criando critérios que mostram os limites naturais do terreno.
A geografia no geral na Alemanha, passa por um grande processo de transformação, sem que haja uma ruptura na questão do saber institucionalizado. Ao contrário, o que acontece com a geografia na verdade, é uma mudança com o intuito de servir aos propósitos daquilo que viria a movimentar a Alemanha: o capitalismo.
Antes de mais nada, se faz necessário compreender a história da unificação alemã para que somente assim haja uma maior compreensão da geografia de Ratzel. A Alemanha daquele época tinha como características, as tardias relações capitalistas que se conciliaram com as estruturas feudalistas.
Observa-se também que o poder se encontrava disperso pelas várias unidades confederadas, devido ao fruto de dominações locais. Havia uma luta pela hegemonia entre a Prússia e a Áustria. Na verdade dois fatores contribuíram de forma decisiva para a unificação, a Confederação Germânica e a repressão aos levantes populares de 1848. Estes levantes populares, tiveram o apoio também das classes dominantes, estabelecendo-se assim, ligações políticas e militares, devido ao fato de que essas massas populares desejarem a unificação do Estado. Em decorrência disso, a disputa entre Prússia e Áustria tornou-se cada vez mais acirrada, sendo que a vitória prussiana iria determinar as características do Estado. Ou seja, uma organização militarizada da sociedade e do Estado.
O poder do Estado alemão naquele período ficara nas mãos dos junkers ( proprietários de terras, representantes da ordem feudal ), o que condicionou a formação de uma imensa monarquia burocrática. Esta unificação reacionária juntamente com a organização militarizada e um expansionismo latente do Estado alemão são explicadas pela situação da Alemanha no contexto europeu. Isto é, o país emergia como mais uma unidade do centro capitalista, só que sem a presença de colônias. Dessa forma, a necessidade de expansionismo aumentava a medida em que um desenvolvimento interno se consolidava e o estímulo a fazer a geografia, ou seja, a se pensar nos espaços geográficos. O capitalismo alemão carecia de soluções práticas, não mais apenas de informações. As idéias virão então da geografia, que vai acabar influenciando outros ramos de estudos. Se para o capitalismo inglês e francês o papel da geografia é de lhes viabilizar a expansão colonial, para o capitalismo alemão seu papel será o de dar respostas a questões ainda preliminares, ou seja, a unidade alemã.
A partir daí a figura de Ratzel começa a se destacar no cenário alemão. Ele vai ser o representante engajado a um projeto estatal, em que vai propor uma legitimação do expansionismo de Bismarck ( primeiro-ministro da Prússia e do Império Alemão). E é com a sua obra publicada em 1882, Antropogeografia - fundamentos da aplicação da Geografia à História, que Ratzel assim funda a Geografia Humana. Nesta obra, Ratzel procurou definir o objeto geográfico como o estudo da influência que as condições naturais exerciam sobre a humanidade. As influências na qual Ratzel afirma, atuariam nos aspectos fisiológicos, nos psicológicos dos seres humanos e através deles, na própria sociedade. Outro aspecto a salientar, é que a natureza influenciaria na constituição social, devido a riqueza que ela proporciona. A natureza também poderia possibilitar a expansão de um povo, ou criar barreiras, assim como o isolamento ou uma possível mestiçagem.
Ratzel fez um estudo minucioso sobre as influências geográficas criticando as duas posições mais discutidas: a que nega essas influências e a que visa estabelecê-la de imediato. Para ele, as influências vão ocorrer através das condições econômicas e sociais. Ratzel retirará de Spencer, um importante pensador, a noção da sociedade como um organismo e a concepção naturalista do desenvolvimento da sociedade humana. Sendo assim, a cadeia de raciocínio como veremos é basicamente linear, começando com os homens, estes agrupando-se em sociedades, as sociedades transformando-se em Estados e o Estado em um organismo. Sendo que a Sociedade e o Estado são frutos orgânicos do determinismo do meio.
Segundo Ratzel, a sociedade como um todo, é um organismo que mantém relações com o solo, nas suas necessidades de moradia e alimentação. O progresso significa um maior uso do meio, ou seja, uma relação mais íntima com a natureza. Quanto maior o vínculo com o solo, tanto maior seria necessidade de manter a sua posse. Daí advém que a sociedade cria o Estado, segundo Ratzel. O Estado é um organismo em parte humano e em parte terrestre. O Estado é assim porque possui uma relação necessária com a natureza, ou seja, os Estados necessitam de espaço como as espécies, por isso lutam pelo seu domínio.
A subsistência, energia, vitalidade e o crescimento dele têm por motor a busca e conquista de outros espaços. A análise das relações, entre o Estado e o espaço, foi um dos pontos privilegiados da Antropogeografia. Para Ratzel, o território representa as condições de trabalho e da própria existência da sociedade. Por outro lado, a necessidade de aumentar as expansões territoriais são consequências do progresso, ou seja, Ratzel vai justificar suas colocações com o conceito de "espaço vital", em que este representa uma proporção de equilíbrio entre a população e os recursos oferecidos para que se possa suprir as suas necessidades. Dessa forma, é possível ver a vinculação entre o projeto imperial alemão e as formulações de Ratzel para a sua época, legitimando assim o imperialismo bismarckiano.
A Geografia proposta por Ratzel privilegiava o ser humano, e abriu várias frentes de estudo, valorizando assim questões referentes à História e ao espaço geográfico como a formação dos territórios, a dispersão dos homens no globo, as distribuições dos povos e raças, seus isolamentos, além de estudos que se referiam as áreas habitadas. Tudo isto, baseado nas influências que Ratzel propôs anteriormente. Ele manteve a idéia da Geografia como ciência empírica, cujos procedimentos de análise seriam a observação e a descrição, ao mesmo tempo em que proponha ir além da descrição, buscando a síntese das influências na escala planetária. De resto, ele manteve a visão de um naturalista, ou seja, reduziu o homem a um animal ao não diferenciar as suas qualidades específicas; dessa forma propôs o método geográfico como análogo as demais ciências e concebia a causalidade dos fenômenos humanos como idêntica a dos naturais. Assim, Ratzel ao propor uma Geografia do Homem, entendeu-a como uma ciência natural.
Os estudos de Ratzel influenciaram muitos outros autores, sendo que suas colocações foram bastantes radicalizadas constituindo-se assim a "escola determinista", ou do "determinismo geográfico". Contudo, muitos desses estudiosos, empobreceram as teorias de Ratzel, por excluírem as influências geográficas, ou seja, eles estavam buscando evidências empíricas para as teorias formuladas. Nomes como E. Semple e E. Huntington estiveram presentes nesta escola. A primeira apresentou teorias que relacionava as religiões com os relevos; nas regiões planas, predominavam as religiões monoteístas; nas regiões acidentadas, as religiões politeístas. Já para Huntington, ele determinou que as dificuldades do meio é que fariam com que houvesse um maior desenvolvimento, e isto é explicado na sua obra chamado Clima e sociedade. Além desta teoria, ele defende a idéia de que os invernos rigorosos formaram o fator principal para o desenvolvimento das sociedades européias, principalmente no que diz respeito aos aspectos de estocagem de alimentos, abrigos, entre outros.
Outro desdobramento da proposta de Ratzel manifestou-se na constituição da Geopolítica. Esta corrente, dedicada ao estudo da dominação dos territórios, partiu das colocações ratzelianas, referente à ação do Estado sobre o espaço. Os autores desenvolveram teorias e técnicas que legitimavam o imperialismo. Ou seja, as formas de se conquistar e manter os territórios. Entre esses autores, estavam Kjeilen, Mackinder e Haushofen. O primeiro criou o rótulo Geopolítica. Já o segundo, trouxe consigo temas e discussões a respeito dos domínios das rotas marítimas, as áreas de influência de um país e as relações internacionais. O último, um general alemão e presidente da Academia Germânica no seu governo, foi outro teórico da Geopolítica que deu um sentido bélico definindo-a como parte da estratégia militar. Ele desenvolveu teorias referentes à ação do clima sobre os soldados e criou uma escola que mais tarde influenciaria o Nazismo.
Uma última perspectiva saída das formulações de Ratzel, fora conhecida como escola "ambientalista". Esta mais recente, não é considerada um ramo da Antropogeografia, embora tenha sido Ratzel o responsável formulador das suas bases. Esta corrente vai propor o estudo do homem em relação aos elementos do meio em que ele está inserido. O conjunto dos elementos naturais é abordado como o ambiente em que o homem vive. O ambientalismo representa uma visão determinista bastante atenuada, ou seja, a natureza é vista como um suporte da vida do ser humano e não como determinação. O ambientalismo se desenvolveu modernamente com o apoio da Ecologia. A idéia de estudar as relações dos organismos que coabitam determinado meio, já estava presente em Ratzel, devido a influência que sofreu de Haeckel, o primeiro formulador da Ecologia.
Sendo assim, é notório que o desenvolvimento da Antropogeografia de Ratzel ajudou não só o interesse imperialista alemão de Bismarck, mas em entender as relações do meio com os seres humanos. Entender acima de tudo, a importância do meio em que vivemos, pode ajudar no desenvolvimento das sociedades não só daquela época, mas de sociedades que poderão vir. O que dignifica o trabalho de Ratzel, que veio a ser usado não só pelo governo alemão, é saber que se transformou numa das bases mais importantes para os estudos de outros ramos como a Ecologia, e que aumentou cada vez mais a necessidade de se aprender a lidar com o meio ambiente, que devido as inúmeras desenvolturas tecnológicas, vem mudando constantemente a sua face.
Bibliografia: Geografia - Pequena História Crítica. MORAES, Antonio Carlos Robert. Editora Hucitec, 14ª edição.
O que é Geografia. MOREIRA, Ruy. Editora Brasiliense, coleção Primeiros Passos, 15ª edição